sábado, 29 de agosto de 2009

Manhã suja

Abri os olhos sentindo-me um coelho indefeso a acordar pela primeira vez para o mundo. Logo sem sequer notar, um sentimento arrebatou-me por completo. Uma efémera nostalgia vinha ao de cima. Apetecia-me voltar a passar tardes a rebolar na relva verde, apetecia-me voltar a dizer piadas secas que apesar de tudo provocavam risadas infinitas.
Sentei-me na cama e olhei a meu redor. Via um lençol branco, uma colcha laranja. Via estantes com cd's, com livros e com memórias. Via um quarto nu e cru, frio e vazio. Mas nem pensei em lamentar-me.
Saltei e abri a janela. Nunca uma brisa matinal me soube tão bem na cara. Era fresca. Era o que precisava.
Chinelos? Não. Fui descalça até à cozinha, afinal de contas, aqueles azulejos castanhos também merecem ver os meus pés. E os meus pés merecem sentir o frio que o chão é.
Após uma maçã verdinha, um bom, longo, demorado, molhado, genial, infantil banho acompanhado da banda sonora da minha vida.
É impressionante como a nossa vida é um banho, em que o nosso corpo são os nossos pecados, e a espuma a purificação, o perdão dos outros, que nos lava a pele, a alma, e ainda aquela caixinha traquina que se diz chamar coração.


Alexandra Mendes

Um comentário:

  1. Alexandra,
    Gostei! Escreve sempre.
    Beijo da tua prof. de português
    Helena Vilar

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