domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quanto os porcos voarem

Quando a lava começar a dançar
pelos mosaicos da calçada,
e quando os rios se começarem a rir
como uma humana gargalhada,
aí podes lamuriar-te
e dares-te de coitada.

Seja rocha podre me bata na água,
ou onda de maré que enrole na areia,
guarda num frasco essa tua mágoa
que aqui essa falsidade
não passa por sereia!

Se me culpas dos terramotos
e me fazes monstro de cinema,
então minha cara, larga as fotos,
larga as cartas.
Segue, arranja outro tema.

Alexandra Mendes

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

pi-pi

Perdi-me nas conversas que zumbiam no autocarro. Tudo ouvia, tudo esquecia sem qualquer reflexão, ou tentativa de escutar.
Olhava para a janela e deixava-me a contemplar a maravilha da correria. Tanta luz, tanto movimento, tanta pressa. Uns a falar com mini-caixinhas de comunicação, outros a resmungar com a miudagem no banco de trás, outros a sacudir as cinzas dos cigarros com cara de quem está sem paciência, outros ainda a olhar para fora, e provavelmente a fazer o mesmo que eu: tentar esquecer as buzinadelas. Todos em máquinas com rodas. Todos mecânicos. Todos animais.
Entretanto as minhas rugas da testa contraíram-se e questionaram-se para onde iria tanta gente, com tanta pressa.
Para casa. Para as suas casas. Oh! A pressa de chegar a casa é tanta. Só espero que a pressa não esteja também no querer sair depois.

Alexandra Mendes

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Ai..."

Um suspiro embalado pela saudade que trazia.
Era tão encarnado quanto perfumado.

Talvez qualquer dia
o possa guardar numa garrafa de vinho.
Talvez um dia
o possa enviar para as ondas do mar,
só para ele não suspirar sozinho.

Alexandra Mendes

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Alguém disse que

O amor recíproco deve ser vivido!

enquanto tento pensar

Se para parar a chuva
é necessário um abraço,
então para travar a trovoada
é preciso mais um pedaço.

Um beijo.
Sim.
Um beijo de algodão
que contenha o sol de inverno.
Um beijo capaz de levar
o fogo ao céu, e as nuvens ao inferno.

Mas se para viajar
é preciso um barco,
e uma vela,
para ser abelha
é preciso ter ferrão,
ser amarela
e zumbir.
E então, para ser poeta
seria preciso cair
e chorar, e rir,
e cantar,
tudo a fingir.

Alexandra Mendes