sexta-feira, 24 de julho de 2009

Amantes

Duas almas despidas,
reluzem ao luar.
"és tudo"diz ele,
com o coração a bombear.
Ela cala,
deixa que o seu olhar responda.
Ela sabe que o ama,
por muito que a sua voz o esconda.

E eles falam-se com o corpo,
eles ressuscitam o desejo morto
de ambos.
E eles impedem que a lua se vá,
impedem que desapareça.
Eles aquecem a noite
antes que o sol amanheça.

Alexandra Mendes

Esquece.

Limpa os olhos e solta um sorriso
Tu não és pó inútil,
e muito menos és o chão que piso.
És a voz de sempre.
És a mentira quente,
sem a qual todos os dias passados
seriam vento e grãos de areia enterrados.

Por isso não chores,
nem sequer penses na miséria do mundo.
Conforta-te em todas as rimas, e todos os versos
do poema mais profundo
que encontraste em mim.
Desculpa meu amor,
mas parece-me que é o fim.

Alexandra Mendes

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Preguiça aguda.

Tenho as mãos frias
e começo a engolir ar.
Sei que provavelmente me levanto
mas para quê tentar?

Eu quero é ficar deitada na relva,
a ouvir os rujidos dos animais
ferozes da selva.
Quero fixar tudo na minha memória,
para que este episódio não se repita,
jamais, na minha história.

Sim, já começo a revoltar-me contra tudo,
e sei que sempre que resmungo não tenho razão.
Mas não é culpa minha.
A culpa é desta invasão.

Grito, e canso-me, e desapareço.
Afinal, sou quem sou,
e o paraíso, esse eu sei
que mereço.

Alexandra Mendes

Promessa simples

Vou ficar contigo
até que o céu congele,
até que o sal nos mate a pele.
Enquanto eu não me atirar para o chão,
juro-te que todos os dias,
da nossos dias,
nunca serão em vão.

Alexandra Mendes



domingo, 19 de julho de 2009

(Re)conforto

Eu estou aqui. Podes vir para o meu colo e deixar que essas tuas doces lágrimas te escorram pela face. Não te vou julgar nem tão pouco vou fingir que te compreendo, mas vou tentar olhar para ti e beber fundo dos teus olhos para encontrar a beleza alegre que há muito vi desaparecer de ti.
Desculpa se a cozinha não está arrumada, desculpa se as facas estão por afiar e se o chão está por varrer, mas não tive tempo para assear esta divisão da casa. Fui a correr ter contigo, e ao pensar em carregar-te nos meus braços esqueci-me da confusão que se encontrava no meu apartamento.
Ah, e desculpa o fumo do meu cigarro, sei que não gostas, mas a tua fragilidade provoca em mim esta preocupação obsessiva que faz transformar a calma em stress. Nunca pensei encontrar-te assim, e por isso desculpa-me a expressão de não saber o que fazer.
Se soubesses o mundo que és, se soubesses o belo que o teu sorriso é, não ousavas sequer em verter uma lágrima de choro. Não ousavas sequer em entristecer-me com a tua tristeza.
Oh well, não há nada a fazer. Eu prometo ficar contigo toda a noite neste sofá velho e de cor garrida. Prometo que quando voltares a ousar esboçar um sorriso, por mais leve e discreto que seja, pego em ti, e dançaremos na varanda ao som de uma balada seca e monótona.
Prometo cumprir, prometo deixar que me atires esse teu jeito à cara, prometo deixar que me apaixones em silêncio.

Alexandra Mendes


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Estrela.

Porque todos caem e desfalecem,
e tu não.
Porque continuas comigo
e carregas-me o coração.

Porque não baixas a cabeça
e caminhas para a frente.
Porque sei que és eterna
e assim o serás para sempre.

Porque és delícia e música
que me encanta o ouvido-
És no mar aquele tesouro,
que anteriormente estava escondido.

E porque para ti o mundo
e o universo não são demais.
Porque és de todas as estrelas do céu
aquela que brilha mais.



Alexandra Mendes

Sala.

Estavas no sofá deitado
observando a minha dança
de loucura.
E como quem é amado,
de amar não cansa,
derretias-te com a minha tez escura.

Pedias-me para não pararde balançaro meu corpo frágil.
Pedia-te para não cansares
de me olhar,
de me devorar
com os olhos.

Trincavas o lábio como para chamar por mim,
e eu respondia com um sorriso
daqueles que não têm fim.
Mas o meu vestido vermelho
era demasiado tentador,
e tu, como que um espelho
proclamavas e recitavas
palavras de amor.

Chamavas-me com a doçura
e simplicidade da tua voz.E eu, como poderia resistir e ignorar isso, se tudo o que estava na minha cabeça
era o fruto de nós?

Por entre toques e beijos,
risos e gargalhadas,
incendiá-mos e fervemos o chão,
sabendo que as memórias vividasiriam , jamais, ser apagadas.



Alexandra Mendes

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Não atires a porta com força.

A música ainda toca, mas o piano, esse está com pó. A doce melodia da música do silêncio embala-me e acolhe-me na sua tristeza. Limpa-me a alma e impede-me de ter pensamentos inválidos e desnecessários.
Que ninguém me venha chatear. Que ninguém venha gritar comigo. Nem tu, meu coração. Eu sei que palpitas ainda, mas deixa-me estar só. Preciso de devorar estas notas imperceptíveis ao ouvido humano. Preciso de esticar-me na cama e revirar os lençóis ao contrário. Aliás, preciso de revirar o meu mundo ao contrário. E para isso, escolhi esta banda sonora.
Não perturbes a sua paz, deixa-a tocar com calma, deixa-a percorrer cada veia e cada artéria de mim. Deixa-a alimentar-me e deixa-me estar sossegada.
Quero estar a sós com o barulho que não existe, quero ser clave de sol nesta pauta.
Sai, por favor sai, e não atires a porta com força.

Alexandra Mendes

Era

O que antes para nós era sagrado,
é hoje pó,
pó queimado.


As pegadas na areia eram profundas,
e hoje, são tão leves e solitárias
que choram nas rotundas
dessa estrada, dessa cidade
de luzes apagadas.


O que era foi
e jamais irá voltar.
O que era acabou
e foi levado para o mar.

Alexandra Mendes