domingo, 23 de maio de 2010

Sangue desvairado

Olha, queres saber um segredo?
Vou guardar-te na mão.
Vou pôr-te no peito
e esbarrar-te, encostar-te ao coração.

Não te vais poder queixar,
nem espernear, nem gritar!
Pois vou cortar-te a boca,
atar-te a língua
e trancar-te na toca.

As pessoas em silêncio,
mostram o belo,
engolem o feio.
Sobem sem medo,
descem sem receio.

Quero-te grande.
Quero-te aqui.
Quero ler-te,
como nunca antes
te li.

Alexandra Mendes

sábado, 15 de maio de 2010

Café?

Cheguei relativamente tarde. Mal esperava por cair gloriosamente sobre a cama e fechar os olhos aterrados de cansaço. Pensava eu que, com a fome de sonhos que tinha, seria fácil de me transportar para fazer o "ó ó".
Oh como me engano. Não sei que horas são, mas de certeza que o relógio já comeu uns bons minutos enquanto eu me contorcia aqui, feita lagarta tonta, a tentar embalar-me. Dizem que até adormecermos experimentamos 27 posições. Bem, cá para mim, escolheram esse número à sorte, ou talvez por ser um número misterioso, pois tenho a certeza que já vou na minha 35ª posição e o sono (apesar de existir) ainda não se apaixonou por mim.
Pior que encontrar A posição que a outra da Disney encontrou para adormecer, é desligar esta cabeça que só pensa quando não deve. Ainda vou ter de ser eu a inventar a porcaria de um comando para desligar o cérebro quando nos apetece? Credo. Eu não entendo. Tudo me incomoda. É a almofada que fica repentinamente mais baixa (ou alta), são os lençóis que se enrolam nas minhas pernas cheias de calor, é este tique-taque do despertador que parece gritar "não adormeças não, que amanhã vai ser lindo!", e é esta massa enjaulada no crânio que não se desliga! Oh. Espera...

Alexandra Mendes