domingo, 21 de novembro de 2010

é neve

Com as mãos geladas
abraço o mundo,
na esperança de um dia
te adormecer a cantar.

Sei que é frágil e incerto,
mas como posso eu mudar?

Alexandra Mendes

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

O navio pirilampo

Um pequeno navio
que dançava no mar,
perguntou-me ao ouvido
quem haveria de amar.

Sempre me ensinaram
a amar o que é meu,
por isso pequeno navio
tens de amar o que é teu.

Se são as águas, as conchas,
as ondas e o sal,
então navega pelas praias fora,
pela costa de Portugal!

Alexandra Mendes

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

"a chuva é um ping ping.."

Um canto repetido
de choro barulhento.
Porque choras tu ó nuvem,
se tens no coração
o teu amor dentro?

Vai descansar,
a vida é um vai e vem.
Vai contar quantos carneiros
aquele rebanho tem.
Vai fechar os olhos
e deixa-me dormir também.

Alexandra Mendes

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Como uma criança

Vou desfazer-me.
Deitar fora a preguiça.
Irá com o amor
dentro de uma garrafa
tapada com rolha de cortiça.

Vou atirar esses bichos
para as chamas vermelhas
e para as línguas de fogo
que nunca conseguem ser velhas.

Suponho que se vá evaporar
essa solução tóxica.
Espero é não poluir o ar,
senão ainda alguém apanha a doença
e por pouca culpa que tenha,
verão sempre como uma ofensa.

- Cuidado ó alma inocente..
se fosse só estalar os dedos
estarias tu bem contente.


Alexandra Mendes

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Lamúrias!

Abram-se as cortinas!
Tire-se os chapéus!
Largue-se foguetes
para romper
e ferir os céus!

Contorça-se na cama
e abrace o lençol.
Esqueça-se a fama,
a essa, envie-se para o sol!

Que hoje o dia é luz branca
e a relva é verde, molhada.
E a ferida quase sempre estanca
e parte-se para uma nova embrulhada.

Alexandra Mendes

sábado, 3 de julho de 2010

brisa

Já sei! Eu ouvi-te.
A ti, ao teu bater do coração.
Ouvi o teu queixo
o teu nariz e a tua mão.

O que me acordou?
Foi um barulho baixinho.
Bateu à minha janela e sussurrou
com a meiguice de um beijinho.

Vou levar-te à praia
para te mostrar
que deixei entrar o calor.
O calor que tanto cantaste
acompanhado com um tocar
vermelho e saltitante,
com o teu tambor.

Alexandra Mendes

sábado, 26 de junho de 2010

21:47

É hora de deitar!
De fechar os olhos e chorar,
é hora de cair!
Hora de manter o cantar
e tombar no chão a sorrir!

Hora de beijar pescoços,
de trincar maçãs
e cuspir os seus caroços!

Hora de adormecer o mar ,
vencer a corrente
e nadar, dançando, com vagar.

É hora de ser alguém!
De despir a pele e ser transparente.
É hora de ir para além
do que vai toda a gente.

Alexandra Mendes

domingo, 23 de maio de 2010

Sangue desvairado

Olha, queres saber um segredo?
Vou guardar-te na mão.
Vou pôr-te no peito
e esbarrar-te, encostar-te ao coração.

Não te vais poder queixar,
nem espernear, nem gritar!
Pois vou cortar-te a boca,
atar-te a língua
e trancar-te na toca.

As pessoas em silêncio,
mostram o belo,
engolem o feio.
Sobem sem medo,
descem sem receio.

Quero-te grande.
Quero-te aqui.
Quero ler-te,
como nunca antes
te li.

Alexandra Mendes

sábado, 15 de maio de 2010

Café?

Cheguei relativamente tarde. Mal esperava por cair gloriosamente sobre a cama e fechar os olhos aterrados de cansaço. Pensava eu que, com a fome de sonhos que tinha, seria fácil de me transportar para fazer o "ó ó".
Oh como me engano. Não sei que horas são, mas de certeza que o relógio já comeu uns bons minutos enquanto eu me contorcia aqui, feita lagarta tonta, a tentar embalar-me. Dizem que até adormecermos experimentamos 27 posições. Bem, cá para mim, escolheram esse número à sorte, ou talvez por ser um número misterioso, pois tenho a certeza que já vou na minha 35ª posição e o sono (apesar de existir) ainda não se apaixonou por mim.
Pior que encontrar A posição que a outra da Disney encontrou para adormecer, é desligar esta cabeça que só pensa quando não deve. Ainda vou ter de ser eu a inventar a porcaria de um comando para desligar o cérebro quando nos apetece? Credo. Eu não entendo. Tudo me incomoda. É a almofada que fica repentinamente mais baixa (ou alta), são os lençóis que se enrolam nas minhas pernas cheias de calor, é este tique-taque do despertador que parece gritar "não adormeças não, que amanhã vai ser lindo!", e é esta massa enjaulada no crânio que não se desliga! Oh. Espera...

Alexandra Mendes

sábado, 10 de abril de 2010

Debaixo da ponte

Conheci um vagabundo
com barba de Deus.
Cheiro nauseabundo
e trapos quase tão rotos e gastos
quanto suas teorias
pregadas aos ratos.

Mesmo assim sorria
com o nirvana em seus olhos.
Ao falar parecia que bebia
do copo com o vinho mais vermelho,
e ao ouvir, lia-nos a alma
tão ou melhor que o nosso espelho.

Alexandra Mendes

Letras do engate

Sopras-me a cantar
pelo meu ouvido atento.
Tento ouvir-te sem beijar
mas o oxigénio convence-me
e eu não aguento.

Depois vem a Lua do amor
e as rimas sem tino saem.
Mas tenho de despir as palavras
seja de que maneira for,
para que os meus olhos não desmaiem.

Alexandra Mendes

terça-feira, 30 de março de 2010

Avenida da Liberdade

Ó pedra da calçada,
podes dizer-me onde vai
esta gente desvairada?

Diz-me para onde correm
com tamanho peso
em seus ombros.
Diz-me porque mostram
em suas caras desprezo,
pelos que não ruíram
mas se levantaram.

Alexandra Mendes

sexta-feira, 5 de março de 2010

O que não tem definição

O que não tem definição
é um suspiro carregado.
É um não largar a mão
mesmo quando o peito fica apertado.

Um poema calado,
uma frase muda
sobre um olhar falador.
É um corpo partilhado,
uma saudade profunda.
É o amor.

Alexandra Mendes

quarta-feira, 3 de março de 2010

07:00h

Desculpai-me meus amigos
mas hoje, eu vou dormir.
Vou fechar os olhos, esquecer.
Vou sonhar, vou partir
para onde bem entender.

Só a arte de adormecer
torna feliz a preocupação.
Só o sono sabe travar
e anestesiar o coração.

Quem pode mais
apagar as imagens?
Transformá-las em nuvens
e descansadas viagens?

Alexandra Mendes

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Quanto os porcos voarem

Quando a lava começar a dançar
pelos mosaicos da calçada,
e quando os rios se começarem a rir
como uma humana gargalhada,
aí podes lamuriar-te
e dares-te de coitada.

Seja rocha podre me bata na água,
ou onda de maré que enrole na areia,
guarda num frasco essa tua mágoa
que aqui essa falsidade
não passa por sereia!

Se me culpas dos terramotos
e me fazes monstro de cinema,
então minha cara, larga as fotos,
larga as cartas.
Segue, arranja outro tema.

Alexandra Mendes

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

pi-pi

Perdi-me nas conversas que zumbiam no autocarro. Tudo ouvia, tudo esquecia sem qualquer reflexão, ou tentativa de escutar.
Olhava para a janela e deixava-me a contemplar a maravilha da correria. Tanta luz, tanto movimento, tanta pressa. Uns a falar com mini-caixinhas de comunicação, outros a resmungar com a miudagem no banco de trás, outros a sacudir as cinzas dos cigarros com cara de quem está sem paciência, outros ainda a olhar para fora, e provavelmente a fazer o mesmo que eu: tentar esquecer as buzinadelas. Todos em máquinas com rodas. Todos mecânicos. Todos animais.
Entretanto as minhas rugas da testa contraíram-se e questionaram-se para onde iria tanta gente, com tanta pressa.
Para casa. Para as suas casas. Oh! A pressa de chegar a casa é tanta. Só espero que a pressa não esteja também no querer sair depois.

Alexandra Mendes

domingo, 7 de fevereiro de 2010

"Ai..."

Um suspiro embalado pela saudade que trazia.
Era tão encarnado quanto perfumado.

Talvez qualquer dia
o possa guardar numa garrafa de vinho.
Talvez um dia
o possa enviar para as ondas do mar,
só para ele não suspirar sozinho.

Alexandra Mendes

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Alguém disse que

O amor recíproco deve ser vivido!

enquanto tento pensar

Se para parar a chuva
é necessário um abraço,
então para travar a trovoada
é preciso mais um pedaço.

Um beijo.
Sim.
Um beijo de algodão
que contenha o sol de inverno.
Um beijo capaz de levar
o fogo ao céu, e as nuvens ao inferno.

Mas se para viajar
é preciso um barco,
e uma vela,
para ser abelha
é preciso ter ferrão,
ser amarela
e zumbir.
E então, para ser poeta
seria preciso cair
e chorar, e rir,
e cantar,
tudo a fingir.

Alexandra Mendes

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Refeição mais importante do dia

Alma de mel.
Alma de fel.

Preciso de leite e torradas.
Preciso de tostas.
Muitas tostas de manteiga regadas!

Alexandra Mendes

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Espalhanço

Uma nuvem tropeçou e jorrou sangue encarnado.
Não gosto desse líquido.
Não gosto. Nem que fosse dourado.


Alexandra Mendes

domingo, 17 de janeiro de 2010

Min(uto)

Deixa-te estar assim.
Tu podes.
Não mexas um dedo, não mexas um músculo.
Eu vou pedir ao vento que não te mexa no cabelo.
Assim, podemos parar os ponteiros do relógio,
podemos parar o tempo, vendê-lo.

E posso começar a sussurrar-te.
Posso cantar baixinho,
que sei que vais ouvir.
Posso pôr um sorriso no peito,
que sei que o vais sentir.

E tu podes deixar-me viajar
em ti, sempre.
Podes confirmar que a verdade
nada mais é que a saudade,
e que a minha boca não mente.

O eterno é o amor.
O eterno é a música das folhas,
e dos rios, e do vento.
O eterno é o sabor
da vitória, do combate
contra o tempo.

Alexandra Mendes

sábado, 16 de janeiro de 2010

Promessa simples II

Mereces todas as palavras
que o dicionário tenha.
E se mais paixão tiver de vir,
então que venha!
Eu vou-te amar,
vou estar contigo,
até que o mar se transforme em fogo
e o fogo se quebre em gelo
de novo.

Alexandra Mendes

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Men Eater, «Lisboa»

«Do teu ombro vejo o mundo!
É Lisboa em todo o lado.
Soltam os cães atrás de mim!
Amanhã de madrugada,
Usa a roupa que escolhi.
Como adorno, não um fardo!
Levo o peito cheio de ti!
Deixo o resto à tua guarda.»