sábado, 19 de setembro de 2009

Luz

(...)
Afonso - "Oh violeta, eu não sou poeta nem dramaturgo, mas uma coisa de garanto, amo-te e sei que sabes isso, e também sei que sabes que és tudo e que sem ti não sou eu."

Violeta sorri, vira costas e olha para o céu.

Afonso - "Então? Estás calada? Que se passou?"
Violeta - "Olha para ali. Nunca antes vi um céu assim tão estrelado, está lindo."
Afonso - "Como a cor que trazes vestida."
Violeta - "Chiuu... Olha para o céu. Não te parece que as estrelas vão cair sobre nós?"
Afonso - "Se caírem, caíram. Nós estaremos de mãos dadas, portanto estaremos bem."
Violeta - "Isso! Abraça-me Afonso! Não me largues, não fales mais"
Afonso - "Mas... à bocado disseste-me para carregar o que sinto cá para fora"
Violeta - "Sim, e assim o fizeste. Mas entende que não só as palavras mostram. Este abraço, este gesto vale por 100 páginas escritas. Não deixes que isto termine, não permitas que as estrelas adormeçam."
Afonso - "Se adormecerem não há mal. Nós ficaremos acordados, nós brilharemos tanto ou mais que elas. És luz Violeta."

Alexandra Mendes

Madeira falante (e ouvinte)

Se eu fosse um banco,
daqueles verdes que estão no jardim,
queria que os apaixonados
se sentassem em mim,
e me contassem histórias de chorar.
Queria ver as lágrimas de alegria
e sentir a ansiedade, o peito a palpitar.

Se eu fosse um desses bancos,
não queria apodrecer.
Nem tão pouco queria
que os apaixonados se fossem
e me deixassem a envelhecer.

Seria gentil para todos,
e prometer-vos-ia ficar calada.
Iria-me limitar a ouvir e apreciar
as frases ditas pela voz apaixonada.

Oh que sonho!
Poder ver o nascer e o pôr do sol
todos os dias, todas as estações.
Poder conversar com o vento
e ouvir as suas canções.

Quando chegasse a minha hora,
escreveria um livro.
Um romance talvez.
Oh! Um não, nem dois nem três!
De certeza teria tanto para contar
que três livros não chegariam.
Haveria tanto beijo para transportar,
tanto aperto para descrever,
tanta vida para retratar
e pintar com letras e sinais de pontuação!

Com certeza apanharia chuva,
e talvez até poderia constipar-me,
mas seria feliz,
e as canções que tinha ouvido,
nunca ninguém poderia tirar-me.

Alexandra Mendes

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

?

Com que rasgo,
com que cabeça,
com que prazer,
pode alguém retirar o sol de um corpo?
Como pode alguém matar
e fazer desaparecer,
a única coisa que faz ver,
que esse corpo não está morto?

Como pode a água acabar
e deixar-me com sede?
Como pode o coração apertar
como o de quem perde?

Alexandra Mendes