sábado, 1 de agosto de 2009

Estou a caminho

Cheguei a casa. Deparei-me com um bilhete em papel delicado, azul, e com um pequeno texto escrito a esferográfica preta. Era anónimo, mas pela caligrafia desastrosa percebia-se que o misterioso bilhete fora escrito pelas mãos de um homem.
Vou passar a citar o que dizia. "Vejo-te todos os dias. Todos. Sem excepção. Tento sempre caminhar ao teu lado mas não consigo, e por isso limito-me a observar o teu andar ao longe. Mas não é por isso que perco a atenção ou qualquer detalhe mínimo. Não. Sei de cor cada traço da tua face, sei o perfume a que cheiras e sei exactamente o livro que andas a ler e a música que te agrada. Sei quantas lágrimas derramaste e sei quantas vezes repetiste a mesma frase na esperança de fazeres o sentimento desaparecer. Sei que provavelmente nunca me verás como eu te vejo, mas agora sei que o importante, o que eu quero, é que me vejas de qualquer forma. Vem ter comigo ao teu jardim preferido, sim, esse mesmo. Ah, e se achares bem, veste o teu vestido preto. Ficas bem nele."
Mal acabei de ler a última letra da última palavra sorri. Amarrotei o papel sem querer, e vesti o vestido preto. Soltei o cabelo e pus o meu baton vermelho. Saí a correr com as chaves na mão, esperando não ter de voltar a usá-las naquele dia.

Alexandra Mendes

Nenhum comentário:

Postar um comentário